Friday, October 17, 2008

Fraktur x Antiqua - A Batalha Do Século!!!

Apesar do exagero do meu título sensacionalista, a batalha entre as famílias de fontes Fraktur e Antiqua rendeu mesmo um longo debate que durou mais de 500 anos na Alemanha, envolvendo argumentos políticos, religiosos e estéticos. Vamos acompanhar a intrigante cronologia desse debate.

Por volta do ano de 1450, Johannes Gutenberg publica sua bíblia de 42 linhas por página, em latim, usando uma tipologia estreita e angulosa, baseada nos manuscritos dos monges copistas. Acho que nem preciso explicar o impacto que a publicação desse livro causou no ocidente: a partir desse momento, surgem muitas novas "ciências" e "artes", entre elas a da tipografia.

Nos anos seguintes, várias pessoas desenvolvem o trabalho de Gutenberg, reproduzindo seus métodos de impressão, e seus tipos móveis. Assim, a fonte que ele havia "criado" torna-se o padrão da indústria editorial recém-criada na Alemanha.

Mas em 1464, dois tipógrafos alemães chamados Conrad Sweynheym e Arnold Pannartz, trabalhando na cidade italiana de Subiaco, criaram a primeira fonte considerada "Antiqua", baseada na arte e cultura dos Império Romano. A partir de 1467 eles começam a publicar livros usando essa fonte, dando início à batalha entre os tipos "góticos" e rebuscados de Gutenberg e o novo estilo romano/latino de desenhar letras.

Em 1475 a famosa fonte Bastarda é desenhada pelo parisiense Pasquier Bonhomme. Em 1485, Friedrich Creussner, de Nurenberg, desenha a Schwabacher. Ambas são descentendes da fonte "frakturada" de Gutenberg.

Em 1508, o Duque da Bavária, Maximiliano I, ordena a criação de uma nova fonte, baseada na Schwabacher. Ela é batizada de Fraktur. O famoso gravador Albrecht Dürer ilustra, em 1513, um livro de orações, cujo texto é impresso com essa nova fonte.

O tipógrafo francês Claude Garamond desenha em 1530 uma nova fonte Antiqua conhecida como "Antiqua da Renassença Francesa". Johann Carolus publica em 1605 o "Relation aller Fürnemmen und gedenckwürdigen Historien", considerado por alguns como o primeiro jornal impresso. O texto é escrito em alemão na fonte Fraktur.

Entre 1800 e 1941 a guerra entre os tipos Fraktur e Antiqua continua na Alemanha, com ambas sendo usadas largamente na publicação de textos, embora a Fraktur continue sendo considerada a fonte "oficial" da Alemanha.
Rudolph Koch desenha, entre 1908 e 1929, duas novas versões mais "modernas" da Fraktur batizadas de Mars-Fraktur e Koch-Fraktur.

Em 1911 o parlamento alemão vota uma proposta de mudança da fonte oficial do governo da Fraktur para a Antiqua. O projeto foi reprovado por apenas 3 votos - 85 a 82.

Nos anos 1920 e 1930, a grande influência da Bauhaus sobre a cultura alemã acendeu mais ainda o debate. Influenciados por László Moholy-Nagy, os designers da Bauhaus criam fontes não-Fraktur que pretendem ser "um instrumento de comunicação" prático e funcional, assim como o design industrial e arquitetônico da Bauhaus. Em 1932, os nazistas fecham a Bauhaus, acusando a escola de ser "anti-germânica".

Em 1928, o pioneiro tipógrafo alemão Paul Renner desenha um novo modelo de letras latinas batizado de "Futura". Renner considerava o design romano de fontes muito mais próximo da cultura alemã, traçando a origem da Antiqua até o lendário Carlos Magno. Mesmo assim, em 1933, Renner é preso pela Gestapo.

Em 1934, em um discurso na conferência nacional de cultura do partido nazista, Adolf Hitler critica o uso da fonte Fraktur, mas seu governo não faz nada para influenciar seu uso até 1941, quando Martin Bormann faz circular um memorando secreto banindo o uso das fontes Fraktur em livros e periódicos alemães.

No entanto, com o fim da guerra e a queda do Partido Nazista, a partir de 1945 os Aliados voltam a usar as fontes Fraktur na Alemanha, em selos postais, cédulas monetárias, e publicações em geral.

Em 1958 surge a Helvetica, que invade o mundo com seu aspecto limpo e coeso. O mercado editorial alemão adota a fonte em peso, e sua popularização decide de vez a contenda em favor das fontes mais românicas.

Nesses tempos de fontes digitais onde todo mundo usa Times New Roman e Arial sem nem se preocupar por que, é emocionante pensar que, em algum momento da história, pessoas já foram presas por causa do design de uma fonte. É até estranho pensar que logo os alemães, tidos como frios e calculistas, tenham tido a sensibilidade de levar uma discussão dessas por tanto tempo, enxergando que uma tipografia não é aleatória, mas o resultado de um longo estudo, e que simboliza muito mais do que apenas o texto com a qual foi escrita.

É bem possível que essa luta tenha tido origens religiosas: os cristãos, expostos à bíblia de Gutenberg, podem ter associado a fonte Fraktur ao livro sagrado de sua religião, e visto as fontes de inspiração românica como representantes do paganismo e da "decadência moral" dos romanos. Não foi à toa que Martin Luther, em sua lendária ruptura com a Igreja Católica, publicou suas famosas "95 Teses" usando uma fonte Antiqua.

No século XX, a polêmica entre as duas fontes tomou um ar mais político do que religioso, provocando um enfrentamento entre designers modernistas e o partido nazista. O visual românico das fontes Antiqua e posteriormente da Futura tinha cheiro de anti-germanismo. É difícil de acreditar e até mesmo de entender, mas Adolf Hitler tinha um senso estético bastante apurado, e entendia muito de design - ouso dizer que grande parte de seu sucesso se deveu graças ao impecável design de tudo que seu partido fazia. Pois foi esse genocida insano quem teve a coragem de derrubar as fontes Fraktur de seu posto oficial e substituí-las pelas fontes Antiqua.

Hitler era obcecado pelo Império Romano, e pode ter visto nas fontes Antiqua o chamado dos velhos césares. Sintomaticamente, depois de sua queda, os Aliados voltaram a usar as fontes Fraktur nos papéis oficiais do novo governo da Alemanha. Talvez como uma forma de voltar atrás uma decisão do führer, mas provavelmente por puro preconceito visual dos estadunidenses que promoviam as reformas.

O duro vai ser ter que pensar em tudo isso toda vez que eu for usar uma fonte sem serifas.

IT-FADU

Bienvenidos a IT-FADU, espacio de información sobre investigaciones tipográficas creado y mantenido por investigadores inscriptos en la Secretaría de Investigaciones de la Facultad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo de la Universidad de Buenos Aires.

Friday, October 3, 2008

Falando em Helvetica...

Helvetica - o filme!

"Helvetica" é um filme sobre a história e o uso da fonte Helvetica. É um documentário independente sobre tipografia, design gráfico e cultura visual global. Ele analisa a proliferação de uma fonte tipográfica (que celebra o seu 50º aniversário este ano), como parte de uma grande conversa sobre a forma como a tipografia afeta nossas vidas.

Comprar o filme.

Baixar o filme.

Baixar legendas em português.

Baixar legendas em inglês.

Web Without Sense

Web Without Sense é um micro-blog (ou seja, que posta frases ao invés de textos compridos) sobre web-design. Suas críticas são pertinentes e vão direto ao ponto.